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Maskaras Afrikanas

Neste texto falo sobre algo que está muito presente nos meus trabalhos de artes visuais: as Maskaras Afrikanas. Explico um pouco sobre sua história, finalidades, espiritualidade e técnicas utilizada.

Autor: Pâmela Peixoto

21/05/2025 ás 22:40

Maskaras Afrikanas

No texto de hoje vou falar sobre algo que está sempre presente em meus trabalhos de artes visuais: as maskaras afrikanas. Muitas pessoas as usam como objetos decorativos, mas elas representam muito mais que isso.
As maskaras têm uma origem milenar, fazem parte das tradições mais antigas do continente. Não se sabe ao certo o ponto inicial desses artefatos, até porque existem diferentes formas e significados para as maskaras — cada povo possui a sua, com diferentes finalidades.
Sabemos que entre 3.500 e 1.500 a.C. foram encontradas pinturas rupestres em rochas representando manifestações de danças utilizando maskaras. Acredita-se que a mais antiga encontrada é a
Oni Obalufon. Ela é feita de cobre puro e pertence à civilização Yorubá, com origem na cidade de Ifé, na Nigéria. Acredita-se que ela possa ter sido utilizada em rituais de coroação, funerários ou que represente o ancestral Obalufon.

Antes de continuar: quem foi esse ancestral que citei acima? Obalufon Alayemore foi um Oni (rei) de Ifé. Ele é cultuado como Deus das artes, da metalurgia, da tecelagem e da realeza entre o povo Yorubá. Seu reinado foi por volta dos séculos XIII e XIV (1.200–1.300 d.C.).

Veja como a maskara Oni Obalufon é extremamente realista e bem produzida, e tem as características das esculturas do povo de Ifé. Eles são bem refinados quando se fala em trabalhos manuais. Essa maskara surpreendeu os arqueólogos europeus quando foi descoberta no início do século XX, pois, ao contrário do que os colonizadores pensavam, o povo afrikano já detinha técnicas avançadas de escultura e metalurgia há séculos e séculos. Hoje, ela se encontra no Museu Nacional da Nigéria, em Lagos.

Maskara Oni Obalufon

Maskaras Afrikanas: muito além da aparência

Viu só como uma única maskara dá “pano pra manga”? São objetos sagrados, carregam uma história e particularidades.
As maskaras surgiram como parte de práticas religiosas, espirituais e políticas. Fazem parte da sociedade afrikana em diversas cerimônias, como, por exemplo, em funerais. Os povos que mais utilizam dessa prática são os da Afrika Ocidental e Central: Bwa, Yorubá, Dogon, Baule, Fang, Dan, Mossi e vários outros. Esses povos acreditam profundamente na conexão ancestral e nas forças da natureza, e através das maskaras podem canalizar essas energias (claro, por meio das cerimônias religiosas e espirituais). Elas são ponte entre o mundo espiritual e o mundo terreno.

As maskaras são feitas de madeira, tecido, contas, metais e vários outros tipos de materiais. Carregam traços estilizados e simbólicos: cada expressão, padrão geométrico e detalhe possuem um significado (proposital) espiritual e ancestral. O artesão, na maioria das vezes, é uma pessoa reconhecida dentro da comunidade. Ele passa por um ritual de purificação (cumprindo todos os preceitos, desde jejuns até oferendas aos ancestrais) e se torna espiritualmente “limpo” e apto para criar esses objetos que são uma “morada” para entidades espirituais.

A escolha dos materiais também é muito importante. A madeira, por exemplo, é escolhida e retirada de árvores sagradas ou com propriedades específicas para o ritual — ela é um material vivo, com energia! Antes de esculpi-la, é necessário prepará-la com orações, purificá-la e protegê-la. Algumas tribos até a deixam durante semanas ao ar livre, secando, para que os “bons espíritos” a habitem.

Após todo esse longo processo, chega o momento de esculpir. O artesão utiliza goivas, facas e instrumentos desse tipo. Como eu disse, cada detalhe tem um significado — desde o tamanho dos lábios até as simbologias e traços. A pintura é feita com pigmentos naturais e tintas vegetais: argila, carvão, folhas, ocre. Também são utilizados adornos como plumas, folhas, metais e tecidos, a depender da tradição e do povo.

No final de toda a confecção, as maskaras são consagradas, passando por oferendas e orações, para que possam ser utilizadas nos rituais. Elas se tornam vivas!

Conexão ancestral é uma conexão consigo mesmo

Os vasos sanguíneos das árvores afrikanas, que são responsáveis pela nossa sustentação, interligados com todo povo preto que reconhece essa conexão. Estamos absorvendo todos os ensinamentos dos nossos antepassados: o amor, força e a vida. A reconstrução da memória nos permite ter um (re)encontro com o (ante)passado, e utilizando o elemento terra conseguimos nos resgatar. E as maskaras representam tudo isso na minha visão. É preciso conexão ou (re)conexão, é preciso natureza, memória e respeito.

E como existem diversos rituais e povos, vou deixar esse assunto para outro blog — assim como a polêmica de Pablo Picasso envolvendo as maskaras. Falarei separadamente sobre algumas tribos que mais me chamam atenção e que me fizeram mergulhar e me apaixonar por essa parte da cultura afrikana.

Antes de mais nada, uma explicação: a grafia "maskara afrikana" não é um erro gramatical — é uma escolha política, espiritual e ancestral. Ao substituir o "c" pelo "k", estou rompendo com a ortografia imposta pela colonização e resgatando uma sonoridade mais próxima das línguas originárias afrikanas.

Essa escolha é um ato de descolonização linguística. O "k" aparece com frequência em línguas como o suaíli, yorubá, zulu, entre outras. Escrever dessa forma é um gesto de resistência e reconexão com as minhas raízes e com o continente de onde vêm muitas das referências espirituais e culturais do meu trabalho. Além disso, as maskaras afrikanas são objetos sagrados. Usar essa grafia também é uma forma de honrar a espiritualidade que elas carregam. Não é só sobre ortografia. É sobre identidade, religiosidade e resistência.

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