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O tempo da arte, do artista e o esquecimento

O texto reflete sobre o que seria o tempo, mas não somente no sentido físico. Falo sobre a visão do tempo para os povos Akan, e também mesclo com outras culturas afrikanas. É uma verdadeira conexão histórica entre o passado, presente e futuro.

Autor: Pâmela Peixoto

17/03/2025 ás 08:33

Mmere dane, dane - O tempo muda, muda.

Há algum tempo fiz uma obra sobre o tempo, mas não esse tempo que contamos no relógio. Quis trazer o tempo na visão dos povos Akans. E posteriormente me lembrei de um poema, bem conhecido por sinal, o "Ozymandias" de Percy Bysshe Shelley, publicado em 1818. Resolvi escrever sobre esses assuntos; o poema de Shelley não tem relação direta com a cultura dos povos que mencionei acima, mas também gosto de estudar a respeito de Kemet e por isso achei interessante trazer esse poema para compor meus pensamentos; me recordei do Kabaka de Buganda, Sunna I, sim, mais uma personalidade histórica de um outro local do imenso continente afrikano. São muitas referências afrikanas que me vem na mente quando penso em tempo; quando fiz essa mesclagem de "culturas" não escrevi coisas aleatórias, e é sobre isso que vamos falar. Por mais que algo aconteça em épocas distintas, em povos distintos, tudo pode se relacionar em algum ponto do tempo. Não só pode, como acontece desde de que o mundo existe. Vocês vão entender agora tudo isso que estou dizendo, e novamente o tempo se fazendo presente.

O que é o tempo ?

Para alguns não passa de uma medida contínua e irreversível, mas o tempo é muito mais que isso.

"Circularidade do tempo

Experiência e memória coletiva

O tempo que muda, muda

Conexão entre passado, presente e futuro."

Essa visão dinâmica do tempo, algo em constante movimento, esse que traz mudanças inevitáveis, aprendizados e transformações. O tempo sempre vai mudar, mas não apenas com o passar das horas, não estou falando do tic-tac do relógio, é algo mais que isso. O tempo é um ciclo vivo, se manifesta conforme a vida acontece. O tempo permite que o passado continue vivo no presente ! Os ancestrais são parte ativa do presente. Estou dando continuidade ao ciclo do tempo.

Mmere dane, dane.

Obra "Mmere dane, dane - O tempo muda, muda", pintura digital. Artista Pâmela Peixoto.

"O artista e sua obra

Por mais que o tempo passe

Por mais que seja famoso, um Deus Egípcio

Com o passar dos anos ele poderá ser esquecido

Mesmo ele se achando o maioral, intrínseco e memorável

artista dotado de talento e soberania

Ele poderá ser esquecido

Assim como suas obras"

Colocarei o poema de Shelley (no final) para quem não conhece entender o que eu estou dizendo. E como disse num tempo não tão distante, (logo acima, melhor dizendo) o tempo é um ciclo vivo que se manifesta conforme os acontecimentos da vida. E retomando ao poema, ele fala sobre Ramsés II: "My name is Ozymandias, king of kings: Look on my works, ye mighty, and despair! - Meu nome é Ozymandias, rei dos reis: Contemplai as minhas obras, ó poderosos e desesperai-vos!". A estátua do maior faraó egípcio encontrava-se perdida no deserto, e isso não é um acontecimento único. Da mesma forma aconteceu com Kabaka Sunna I, durante seu reinado era o mais temido e poderoso, após sua morte abandonaram sua tumba...ficou empoeirada, ninguém para servir ao seu espírito após sua morte (como era de costume na tradição desse povo), nenhuma floresta coberta ou amantes esperando sua hora de reencontrar o grande Deus de Buganda!!

Nada é eterno, por mais grandioso que seja. Tudo está propenso a ficar submerso nas areias e na solidão do vasto deserto do tempo.

E qual a relação da arte com o tempo? Pois bem, para o tempo a arte não é nada. O que queremos ou planejamos para o futuro está intrinsecamente relacionado com o tempo, e novamente dizendo, não é simplesmente esse tempo físico que você conta no relógio.

O esquecimento pode alcançar a todos, e por mais grandioso que pareça ser, sua obra/seu legado pode ser reduzido à ruínas.

Fica de reflexão!

Leia abaixo o poema que mencione, de Percy Shelley.

Tempo, arte, artista e esquecimentos

I met a traveller from an antique land
Who said:—Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them on the sand,
Half sunk, a shatter'd visage lies, whose frown
And wrinkled lip and sneer of cold command
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamp'd on these lifeless things,
The hand that mock'd them and the heart that fed.
And on the pedestal these words appear:
"My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye mighty, and despair!"
Nothing beside remains: round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare,
The lone and level sands stretch far away.

Tradução:

Encontrei um viajante vindo de uma antiga terra
Que me disse: — Duas imensas e destroncadas pernas de pedra
Erguem-se no deserto. Perto delas, sobre a areia
Meio enterrado, jaz um rosto despedaçado, cuja carranca
Com lábio enrugado e sorriso de frio comando
Dizem que seu escultor soube ler bem suas paixões
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes,
A mão que os escarneceu e o coração que os alimentou
E no pedestal aparecem estas palavras:
"Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Contemplai as minhas obras, ó poderosos e desesperai-vos!"
Nada mais resta: em redor a decadência
Daquele destroço colossal, sem limite e vazio
As areias solitárias e planas se espalham para longe.

-Este poema foi escrito em dezembro de 1817, por Percy Bysshe Shelley, e publicado no The Examiner de 11 de janeiro de 1818 e republicado em Rosalind and Helen volume de 1819.

Assista ao vídeo "Mmere dane, dane - O tempo muda, muda", feito por mim:

Ozymandias

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